Em artigo publicado no meu perfil do Linkedin, em dezembro de 2018, com o título “Política de Sustentabilidade e Promoção da Sustentabilidade:até que ponto uma resulta na outra?, afirmo:
“Com todo o meu respeito aos profissionais dessa área – pessoas, em sua grande maioria, comprometidas com belas causas socioculturais e socioambientais -, sinto uma lacuna na relação entre política de sustentabilidade e promoção de sustentabilidade. Noto que, muitas vezes, as empresas têm políticas de sustentabilidade, mas suas práticas não se alinham a elas, o que dificulta a elaboração de relatórios consistentes.”
Hoje, avançando nessa reflexão, gostaria de trazer uma questão que vai além da preocupação com a elaboração de relatórios de sustentabilidade consistentes.
A questão vem de duas observações que me fizeram recentemente: uma, quando preparava uma apresentação sobre a importância de vincularmos nossas ações aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, para empresários; outra, após a sua realização. Quais sejam: (i) “você deve começar a sua apresentação, expondo os benefícios específicos que os empresários vão obter fazendo isso”; (ii) “não ficou claro, para os empresários, o que eles vão ganhar vinculando suas ações aos ODS”.
Como assim?!
Eu me recuso a aceitar que ao conhecer os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, qualquer pessoa que viva nesse planeta não entenda, de imediato, quais são os ganhos que obterá contribuindo para a sua realização. Ou alguém é contra um mundo onde não haja fome, nem pobreza; onde a água potável e o saneamento, a igualdade de gênero, a saúde e o bem-estar, a educação de qualidade, o trabalho decente sejam para todos; onde a vida na água e terrestre sejam preservadas por uma produção e um consumo responsáveis; onde as mudanças climáticas não sejam catastróficas para a humanidade; onde as desigualdades sejam reduzidas e a paz assegurada por parcerias e instituições construídas/reformuladas nesse sentido?
Então a questão não é a não compreensão do que se ganha com isso, ainda que os empresários obtenham vários benefícios ao vincularem suas ações aos ODS, como, por exemplo: economia de despesas (por conta da utilização mais eficiente e/ou sustentável de recursos naturais, renováveis e não renováveis); novas oportunidades de negócios (o mercado da ecoeficiência surgiu a partir da preocupação em criar tecnologias de baixo impacto); fortalecimento da marca (marcas sustentáveis vendem mais do que tradicionais, em algumas empresas); conteúdo para Branding; conversão de clientes preocupados com a sustentabilidade; acesso a novas formas de captação de recursos e de financiamento (crowdfunding, subvenções econômicas, empréstimos subsidiados, empréstimos com taxa fixa ou variável); reconhecimento e apoio internacional; e, inclusive, possibilidade de comunicar resultados de suas ações socio, cultural e ambientalmente responsáveis de forma mais clara e consistente, dentre outros).
A questão é como fazer para contribuir efetivamente para isso. E aqui entra a importância dos Indicadores-Chaves de Desempenho ou os Key Performances Indicators – os conhecidos KPIs, tema desse artigo.
São numerosas as empresas que vem atuando na direção de contribuir para a sustentabilidade socioambiental no mundo inteiro. Não faltam exemplos. Só signatárias do Pacto Global – iniciativa voluntária de lideranças corporativas comprometidas e inovadoras, voltada para a promoção e realização de ações que contribuam com o desenvolvimento sustentável -, são mais de 13 mil. (www.unglobalcompact.org).
O desempenho dessas empresas nesse campo de atuação, no entanto, nem sempre é claro. E sem avaliar esse desempenho não é possível se ter clareza sobre sua contribuição ou não.
Desde 1992, construo indicadores objetivamente comprováveis para metas estabelecidas em projetos socioambientais e socioculturais, em disciplinas, treinamentos, capacitações, consultorias. Aprendi a construí-los trabalhando com alemães, no âmbito da Cooperação Técnica Brasil-Alemanha e fora dela.
Não houve um projeto sequer, para cujas metas não tenha encontrado uma “métrica”, mesmo quando se trata de métrica “qualitativa”. O difícil foi encontrar organizações dispostas a comprovar objetivamente se os indicadores pretendidos foram produzidos com suas ações e projetos.
Mais recentemente, o que entendo por indicadores objetivamente comprováveis, vem sendo chamado de KPIs, como apresentados acima. Os KPIs são “métricas”, quantitativas e qualitativas, para verificação do nível de desempenho ou de sucesso de uma organização em uma meta específica ou geral.
Acredito que se quisermos sair do discurso em prol da sustentabilidade socioambiental e da definição de metas para tanto, para o propósito, verdadeiro, de impactar positivamente o desenvolvimento do planeta, temos que elaborar indicadores objetivamente comprováveis ou KPIs para essas metas e verificar se o desempenho esperado, neles estimado, resultou, de fato, no pretendido.
O desafio é grande, mas o resultado de seu enfrentamento será infinitamente maior.
Fica o convite.
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Fonte da imagem: http://walkerbastos.blogspot.com/2017/08/desenvolvimento-sustentavel-cidades.html